segunda-feira, 3 de junho de 2013

Santo Antônio - A Arca do Testamento

Frei Antônio de Pádua, em sua curta jornada existencial, dedicou-se inteiramente à propagação do Reino de Deus e, depois de um dos processos de canonização mais curtos da história, recebeu, por causa da perfeição de sua vida, a coroa da glória e a veneração de todos os povos, sendo aclamado como o “Santo do Mundo Inteiro”. Em sua singela imagem resplandece o espírito franciscano, o amor ardente pela Palavra, a heróica e íntegra pureza de vida e, por fim, a misericórdia divina para com todos os sofredores, sinalizada nos abraços abertos do Deus feito Menino.

Nascido em Lisboa em 1195, o santo recebeu de seus genitores o nome de Fernando. Cursou suas primeiras letras na escola dos cônegos da Catedral e, em 1210, ingressou para a Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Foi transferido, em 1212, para estudar Filosofia e Teologia em Coimbra, onde se ordenou presbítero e se especializou em Sagrada Escritura.

A Providência Divina quis, então, que, em 1219, se hospedassem em seu mosteiro cinco frades franciscanos que viajavam rumo a Marrocos. O santo, que era porteiro do mosteiro, admirou-se do vigor daqueles franciscanos e de seu espírito missionário. Desde tenra idade, era também este o desejo do jovem Cônego Fernando: ser missionário. No ano de 1220, passam pelo mesmo mosteiro as urnas contendo os restos mortais dos cinco frades, os primeiros santos mártires dos Frades Menores; o que intensificou ainda mais o seu anseio por seguir este exemplo de vida.


Movido por estes exemplos, Fernando pediu para ser admitido à Ordem Franciscana, adotando como nome religioso “Frei Antônio”, em homenagem a Santo Antônio do Egito (mais conhecido como Santo Antão, famoso pai da vida religiosa e monástica).

Neste mesmo ano é enviado em missão ao Marrocos como missionário dos maometanos, porém fica gravemente enfermo e é enviado novamente a Portugal. Contudo, a viagem marítima não prosseguiu o seu curso; ao passar por uma tempestade, sua embarcação é atirada às costas de Sicílio, perto de Messina. Doente e fraco, Frei Antônio foi recolhido pelos frades num pequeno convento. A chegada da primavera e os cuidados dos confrades o ajudaram a superar a febre.

No final do Capítulo de 1221, Frei Antônio, que ainda estava recuperando a saúde e falava pouco o italiano, foi convidado por Frei Graciano a fazer parte da fraternidade do eremitério de Montepaolo. Uma das qualidades de Frei Antônio era ser um valioso factotum, e por isso estava sempre atento às necessidades da fraternidade, ora trabalhava na cozinha, ora na portaria, ora na horta, ora estava em contemplação.

Ou no Advento de 1221 ou na Quaresma, houve uma ordenação sacerdotal em Forli, não longe de Montepaolo. Reuniram-se muitos frades e dominicanos. À hora do almoço, o guardião pediu a um deles que dissesse algumas palavras sobre o sacerdócio. Todos se esquivaram, desculpando-se que se não haviam preparado. Como era praxe alguém falar, o guardião voltou-se para Frei Antônio que, em latim fluente e gramatical, foi um crescendo encantando a todos, até chegar ao âmago do carisma sacerdotal. Todos saíram do almoço falando dele como pregador e como profundo conhecedor da Escritura e da Teologia2.

Após este acontecido, Frei Antônio, que no silêncio da cozinha conventual atuava, passou a pregar publicamente. Os relatos históricos atestam que o santo pregador anunciou o Santo Evangelho por toda aquela região onde habitava.

Aconteceu que, no ano de 1223, todos os franciscanos se reuniram para o Capítulo dito “de Pentecostes”. Neste encontro, São Francisco, tendo conhecimento de que Frei Antônio era possuidor de um vasto conhecimento teológico e de grande humildade, nomeou-o como primeiro professor de Teologia dos frades. Eis a carta que São Francisco escreve a Santo Antônio:
Frei Francisco a Frei Antônio, meu bispo, saudações.
Apraz-me que leias a Sagrada Teologia aos frades, contanto que dentro desse estudo não extingas o espírito da santa oração e devoção, como está contido na Regra.

Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial e mestre em espiritualidade franciscana, assim comenta em um de seus artigos: “Aparentemente, esta carta se apresenta sóbria e simples. No entanto, esta simplicidade aparente nos pode enganar. Pois, quanto mais nela se mergulhar, tanto mais tesouros aí se escondem”3.

Frei Antônio passa a ensinar aos confrades a Sagrada Teologia e, com grande dedicação a este serviço, adverte aos seus aprendizes acerca da brevidade e simplicidade na pregação. Certamente, a sua fama de exímio pregador se deve ao fato de que a todos ele se fazia compreender.

Cativava a todos por onde passava; porém, conta-se que em Rímini, certa vez, o povo não quis ouvi-lo, então humildemente o santo dirigiu-se ao mar e começou a pregar aos peixes que em cardume demonstravam sua atenta predileção. O ardor pela Sagrada Eucaristia o consumia profundamente a ponto de não aceitar que outros fossem indiferentes a tão sublime sacramento e não o adorassem. Conta-se que Antônio tinha sido desafiado por um camponês que afirmava só receber a Sagrada Eucaristia se seu burrico se ajoelhasse diante da mesma; o que milagrosamente aconteceu, embora o camponês tivesse deixado o animal três dias sem comer a fim de que sua fome ainda mais o impelisse a dirigir-se sem demora ao alimento.

Há muitas narrativas maravilhosas sobre os atos de Santo Antônio, no entanto, uma merece destaque aqui: a história do "pão de Santo Antônio", que remonta a um fato curioso que é assim narrado:

Antônio comovia-se tanto com a pobreza que, certa vez, distribuiu aos pobres todo o pão do convento em que vivia. O frade padeiro ficou em apuros, quando, na hora da refeição, percebeu que os frades não tinham o que comer: os pães tinham sido roubados. Atônito, foi contar ao santo o ocorrido. Este mandou que verificasse melhor o lugar em que os tinha deixado. O irmão padeiro voltou estupefato e alegre: os cestos transbordavam de pão, tanto que foram distribuídos aos frades e aos pobres do convento. Até hoje na devoção popular o "pãozinho de Santo Antônio" é colocado, pelos fiéis nos sacos de farinha, com a fé de que, assim, nunca lhes faltará o de que comer 4.

Santo Antônio recebeu do Papa Gregório IX a denominação de “Arca do Testamento”, pois tal era seu conhecimento das Escrituras que, se por ventura estas viessem a se perder, ele seria capaz de reescrevê-las. Deixou-nos realmente um legado de vida e obra: seus sermões escritos como orientação para seus confrades estudantes e seu testemunho de vivência radical do Evangelho. Entregou sua vida nas mãos do Pai Eterno em 1231, com apenas 36 anos.

Santo Antônio captou muito bem e em grande profundidade a doutrina de São Francisco para que, no Studium de Bolonha, pudesse realmente transmitir aos irmãos o gosto pela Sagrada Teologia, sempre em conformidade com o "espírito da santa oração e devoção". São Francisco, com sua vida e pregação penitencial, e Santo Antônio, com sua vida penitencial e pregação doutrinal, ambos percorreram o mundo "não em eloquência persuasiva da sabedoria humana, mas na doutrina e na demonstração do Espírito" (1Cel 36; 1Cor 2,4). A vida interior de ambos se caracterizou, para usar uma expressão de São Boaventura, pela "total hospitalidade do Espírito do Senhor, sendo corretos intérpretes das Escrituras, e dóceis nos ensinamentos, a fim de conquistar a pérola preciosa de que fala o Evangelho" (LM 12.2.14)5.

Santo Antônio de Pádua não só com sua língua anunciou ao mundo a Boa Nova, mas, através de sua vida de santidade, fez-se modelo de um verdadeiro cristão. Sigamos o seu exemplo de vida.
Santo Antônio, rogai por nós! 

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